Inovação e Tecnologia no Artesanato

O Projeto Estruturação do Sistema de Gestão do Artesanato Brasileiro: Diagnóstico e Planejamento Estratégico ofertou o primeiro curso de extensão no formato remoto, denominado Políticas Públicas e Desenvolvimento do Artesanato. A capacitação compõe o diagnóstico nacional da atividade e fundamenta-se no levantamento participativo dos dados, na troca de saberes entre os sujeitos protagonistas do setor e no fortalecimento da rede com foco na implementação de políticas públicas.

A ementa proposta para o oitavo módulo foi:

Conceitos, teorias, abordagem crítica e analítica de atividades de design para o artesanato. O objetivo é oferecer subsídios metodológicos para promover ações de desenvolvimento do setor por meio da tecnologia e da inovação.

O design é “a concepção de um produto (máquina, utensílio, mobiliário, embalagem, publicação, etc.) no que se refere à sua forma física e funcionalidade”. Pode ser exercido de forma industrial ou autoral, na arte e no artesanato, abrangendo vários contextos, ao apresentar soluções a problemas do cotidiano. 

As etapas desse processo são divididas em:

  • investigativa (para entender o que está acontecendo e conhecer as partes envolvidas) 
  • analítica (parte de briefing e de maior elaboração de requisitos e características) 
  • gerativa (para procurar as soluções dos problemas identificados e pensar e apresentar possibilidades) e, por último, 
  • executiva (a fase final de realização das ações necessárias, com maior detalhamento e um acompanhamento da produção).

A união entre artesanato e design traz muitas possibilidades que, segundo Bonsiepe (2011), podem se apresentar a partir de seis posturas distintas, que são:

  1. Enfoque conservador (protege os artesãos das influências externas);
  2. Enfoque estetizante (eleva o artesanato à classe de cultura popular);
  3. Enfoque produtivista (coloca os artesãos como mão de obra qualificada e barata);
  4. Enfoque culturalista (vê o artesanato como ponto de partida do design);
  5. Enfoque paternalista (função mediadora entre produção e comercialização); e
  6. Enfoque promotor de inovação (busca melhorar as condições de vida dos artesãos).

A inovação proposta pelo design no artesanato é incentivada pela criatividade e pelo espírito empreendedor que buscam crescer ao atingir novas áreas, e para isso é necessária a tecnologia, que possibilita realizar as ações para o desenvolvimento do produto e, assim, ajudar a promover trajetórias criativas a partir do artesanato e dos processos culturais.

Acesse textos sobre design e artesanato na nossa biblioteca!

Os tipos de ação do processo de inovação

Existem dois tipos de ações: as cíclicas, que acontecem frequentemente, e as pontuais, específicas. Como exemplo para as primeiras, há a metodologia utilizada pelo SEBRAE-AC, composta por:

  1. Diagnóstico das necessidades;
  2. Capacitação 1, que trata do comportamental, técnicas artesanais e identidade cultural;
  3. Capacitação 2, que aborda design e tecnologia;
  4. Capacitação 3, que abrange aspectos de gestão e comercialização;
  5. Acompanhamento de gestão e design;
  6. Inserção dos produtos no mercado;
  7. Avaliação dos resultados; e
  8. Acompanhamento pós-venda.

Por fim, voltando ao começo e se repetindo ciclicamente nesse mesmo processo.

As ações pontuais podem ser relacionadas à técnica, ao processo criativo, ao desenvolvimento de produtos, à produção, à gestão do negócio, à identidade, à qualificação e à inserção no mercado. Para cada tipo de técnica ou produto, tal ação será diferenciada, se adaptando à necessidade de cada um de forma específica.

Considerações para o design no artesanato

Respeitar o limite de interferência é muito importante para que a autoria e a individualidade do trabalho do artesão continuem presentes e ele consiga se reconhecer em tal produto. Junto a isso, a autonomia do artesão deve ser incentivada, de modo que não se crie uma dependência do designer, sempre buscando a sua valorização e de seu ofício.

O designer precisa ter uma relação com o segmento produtivo, sendo necessário apoiar os artesãos com empatia, humildade de reconhecimento da técnica dos artesãos, respeito à identidade e dedicação dos mesmos, bom relacionamento, perfil exploratório e formação técnica e acadêmica, com exercícios manuais para entender o processo do artesanato.

Assim, é muito importante, para o desenvolvimento inovativo e tecnológico do trabalho artesanal, o mapeamento específico para identificação da necessidade de cada caso, junto a ações de acompanhamento de resultados. A partir disso, o design entra para colaborar e atuar de maneira conjunta ao artesanato e ampliar sua força empreendedora.

Os frutos da parceria entre artesanato e design

A partir da inovação impulsionada pela aliança entre design e artesanato, são obtidos resultados muito benéficos para o desenvolvimento e popularização do trabalho artesanal. Consegue-se obter produtos com uma nova estética, dirigida a um público com maior poder aquisitivo e uma maior agilidade na produção, de modo mais atrativo ao mercado, mas ainda assim mantendo as características e processo artesanal. Também é possibilitado o acesso a novas tecnologias que ajudam no aperfeiçoamento da técnica através dos equipamentos e conhecimentos.

Um relatório do Crafts Council (Conselho de Artesanato) do Reino Unido trouxe alguns pontos importantes sobre essa relação. O material fala sobre a necessidade da colaboração entre grupos artesãos e empresas ou designers para o maior desenvolvimento das ideias e objetivos desses, além da capacitação desses artesãos com investimento em educação. Ou seja, a possibilidade de participar de diferentes cursos que ampliam a bagagem desses profissionais.

Para além do investimento em educação, o investimento nos próprios negócios dos artesãos, que buscam melhorar o financeiro e agregar valor ao artesanato em relação a questões ambientais e sociais e como ele é benéfico.

Existem vários exemplos de projetos bem-sucedidos do artesanato com o auxílio do design. Tranças da Terra é um projeto de artesanato sustentável do centro-oeste de Santa Catarina que usa tranças feitas de palha de trigo, e através do design traz inovações a esse artesanato tradicional com novas tendências e usando produtos ecologicamente corretos. Essa matéria-prima passa por um processo acompanhado por técnicos, que realizam pesquisas para um maior aperfeiçoamento do plantio.

Um exemplo de colaboração entre empresas e o artesanato é a Rede Asta, criada em 2005 pelas empreendedoras sociais Alice Freitas e Rachel Schettino. Essa rede facilita o acesso dos consumidores aos produtos artesanais através do e-commerce e se apresenta como um negócio social, favorecendo todas as partes do processo. Além disso, ela também influencia a educação e acesso a ferramentas que ajudam os profissionais a melhorarem seu desempenho.

Para finalizar, um último exemplo da ótima parceria entre design e artesanato é o projeto de consultoria em design desenvolvido pelo IPTI (Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação) e com apoio do SEBRAE e do Governo Estadual de Sergipe. Nele foram desenvolvidas 156 oficinas, com mais de 140 artesãos de Sergipe, Alagoas e Bahia, que buscavam o estudo de diferentes técnicas e o desenvolvimento de produtos, através de um ensino de conhecimento científico e técnico para o aumento do valor agregado e a maior competitividade desses.

Oficina com artesãs da Associação da Cultura Artesanal de Poço Verde (SE). Fonte: Adriana Fernandes, 2015

As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e de inteira responsabilidade do autor, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Ministério da Economia e do Programa do Artesanato Brasileiro.

Referências

BONSIEPE, Gui. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blucher, 2011.

FERNANDES, Adriana. Tecnologia, Design e Inovação no Artesanato. 2016. Disponível em: <https://www.adrifernandes.com.br/tdia>. Acesso em: 14 fev. 2022.

FREITAS, Ana Luiza Cerqueira; COSTA, Andreia; MENEZES, Marlette. O design e a produção artesanal na pós-modernidade. In: Anais 8º. Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo: Centro Universitário Senac, 2008, 08-11 out. 2008. p. 1-5. Disponível em: <https://andeiracosta.files.wordpress.com/2013/05/o-design-e-a-produc3a7c3a3o-artesanal-na-modernidade.pdf>.

LIMA, Ricardo. Cinco pontos para discussão. In: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Brasília: IPHAN, 2014. Disponível em: <http://cmsportal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/Artesanato__Cinco_Pontos_para_Discussao.pdf>.

SEBRAE. Veja como artesanato aliado ao design desenvolve excelentes produtos. 2013. Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/inovacao-no-artesanato,0c2b347ea5b13410VgnVCM100000b272010aRCRD>. Acesso em: 14 fev. 2022.

SEBRAE Minas. Como negócios artesanais podem crescer. 2019. Disponível em: <https://inovacaosebraeminas.com.br/como-negocios-artesanais-podem-crescer/>. Acesso em: 14 fev. 2022.

A Rede Artesanato Brasil usa cookies para personalizar e melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.