Desenvolvimento, Políticas Públicas e Emancipação

Divisão social do trabalho

Para falar sobre desenvolvimento precisamos pensar nos elementos que o configuram na sociedade atual. A divisão social do trabalho é um conceito muito importante para entender isso, principalmente se pensamos dentro do contexto do artesanato. Apesar de ser mais conhecida em um contexto pós-industrial, a divisão já existia de diferentes formas nas sociedades por causa da troca. Alguns exemplos dessas divisões são:

  • Trocas dentro de comunidades e as divisões sociais do trabalho, sexuais e geracionais: existência de uma hierarquia dentro da própria comunidade pela idade e sexo dos habitantes, dividindo as tarefas de acordo com tais.
  • Trocas com outras comunidades e a divisão territorial do trabalho: com a produção excedente, eram feitas trocas entre diferentes localidades, com uma distância maior entre si, já que as comunidades próximas normalmente produziam similarmente. Assim, eram criadas rotas de comércio.

Dessa forma, mesmo antes da industrialização e do capitalismo se tornar o sistema econômico, as trocas já diferenciavam a vida social, criando várias relações entre diferentes comunidades. Essas comunidades eram influenciadas entre si, sendo necessário observar a todas ao estudar o processo de desenvolvimento de uma delas.

Outros conceitos importantes são os de valor e tempo de produção. Para determinar o valor de certo item, baseia-se no tempo socialmente necessário para sua produção. Ou seja, algo mais trabalhoso e que leva mais tempo para ser feito seria mais caro, mas, ao mesmo tempo, quando dois produtos semelhantes são produzidos por pessoas diferentes com o mesmo resultado, aquele que é produzido mais rápido pode apresentar um valor maior.

Com a chegada do capitalismo mercantil, chegaram também as disputas pelas rotas de comércio. As potências mundiais competiam para tentar conseguir as melhores e, assim, expandir seu mercado consumidor para novos lugares, além de conseguir novos produtos não conhecidos por elas. A partir disso, o capitalismo gerou o acúmulo de riquezas e, através dele, o desenvolvimento de métodos de controle de corpos, espaços e tempos, por meio das relações de poder entre aqueles que possuem muito e os que possuem pouco.

Com a concentração de renda gerada pelo capitalismo, surgem as crises. Uma pequena parte da população detém muitos bens e riquezas acumulados e a maior parte dela luta para sobreviver durante essas crises, chegando a um ponto em que não há para quem os detentores dos meios de produção venderem. Isso é quando eles vão em busca de novos mercados através da expansão geográfica industrial, ou seja, para se manter o capitalismo precisa se expandir.

Desenvolvimento

Ao pensarmos em “desenvolvimento” devemos vê-lo como um processo que atinge um fim. É um termo com múltiplos significados e ganha seu sentido junto àquilo que o acompanha, podendo estar presente em várias áreas. Dois significados importantes dele são: o desenvolvimento das técnicas e da produtividade; e o desenvolvimento do grau de satisfação das necessidades humanas.

“Isto é, o desenvolvimento é a realização do melhor do que todo ser é dotado pela valorização do que em cada um, é convocação de transcendência, de liberdade, é transformação emancipatória, que sendo o termo da caminhada para o mais elevado, deve começar pelo local, pelo imediato, pelo contingente, pela valorização do que em cada um, em sua particularidade, convoca a liberdade” (DE PAULA, 2016, p. 1523)

O termo “subdesenvolvimento” é muitas vezes utilizado de forma errada como sendo o oposto de desenvolvimento, e ele é na verdade um tipo desse. Esse processo no começo da industrialização inferiorizava os saberes tradicionais e acreditava que as antigas filosofias ancestrais deveriam ser erradicadas.

Assim, se faz necessária uma política que acredite nas possibilidades e em um futuro em aberto, onde possamos mudar a realidade se nos engajarmos juntos.  Essa abertura é importante para que os conflitos sejam resolvidos coletivamente e que políticas públicas sejam implantadas.

  • Articulações em Rede com Atores Socioespacialmente Diversos (lugares diferentes e posições sociais diferentes)
  • Participação nos Processos Decisórios.
  • Produção de Discursos sobre si mesmos.
Fonte: Towfiqu barbhuiya (Unsplash)

Esses fatores refletem em um paradigma contemporâneo em que existe a crítica ao “Homo Economicus” e a relação colonizadora da economia sobre outras partes da vida, se opondo às relações econômicas criadas dentro do artesanato que se juntam às questões sociais, culturais, territoriais, espirituais e ancestrais. Ou seja, enquanto o neoliberalismo vê a sociedade como uma associação de indivíduos livres, as potências do artesanato veem a necessidade de relações orgânicas comunitárias e se preocupam com a sustentabilidade, para além da “matéria-prima” tão visada pelo capitalismo. O artesanato é um processo e o artesão é um narrador de seu tempo, em contrapartida à perda da memória e narrativa que se faz presente no mundo neoliberal.

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As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e de inteira responsabilidade do autor, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Ministério da Economia e do Programa do Artesanato Brasileiro.

Referências:

PAULA, João Antônio de. Desenvolvimento: tentativa de conceptualização. In: SOUZA, João Valdir de e NOGUEIRA, Maria das Dores Pimentel. Vale do Jequitinhonha: desenvolvimento e sustentabilidade. Belo Horizonte, UFMG/PROEX, 2011. P. 32 – 50

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