Artesanato entreVISTAS: Fábio Silva e César Rissete

Artesanato entreVISTAS: Fábio Silva e César Rissete

AUTORIA: Ari Rodrigues

Realizada no dia 10 de dezembro, às 19h, a terceira edição do quadro “Artesanato entreVISTAS” contou com a participação de Fábio Silva, Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Artesanato no Ministério da Economia e gestor do Programa do Artesanato Brasileiro, e César Rissete, Gerente da Unidade de Competitividade do Sebrae Nacional. O encontro, conduzido por Luiz Henrique Freitas, bolsista do projeto “Estruturação do Sistema de Gestão do Artesanato Brasileiro: Diagnóstico e Planejamento Estratégico”, tratou da parceria do PAB/Sebrae e as perspectivas para o desenvolvimento do artesanato brasileiro. 

Com a missão de alicerçar a marca da Rede Artesanato Brasil, enquanto interface pública do projeto de diagnóstico do artesanato brasileiro, e tornar a metodologia ainda mais participativa, o programa está estruturado no levantamento geral de questões relevantes para a compreensão da iniciativa e possibilita a interação do público através de perguntas no chat. Os encontros são realizados semanalmente, sempre às sextas-feiras, e contam com os principais nomes da iniciativa — membros da Coordenação, do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Sebrae e das organizações de representação dos artesãos.

 
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Entrevistados da 3ª edição

Fábio Silva

Fábio Silva - PAB

Responsável pela formulação de políticas públicas para microempreendedores individuais e artesãos. Gestor do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) e do Programa do Microempreendedor Individual. Graduado em Administração de Empresas pela FAESA, pós-graduado em Comércio Exterior (UCB) e em Micro e Pequenas Empresas (UFLA).

César Rissete

Gerente da Unidade de Competitividade do Sebrae Nacional. Economista com Mestrado em Desenvolvimento Econômico. Especialista em Produtividade e Qualidade pela JICA/Japan Productivity Center – Japão. Especialista em Políticas Públicas para Micro e Pequenas Empresas pela UNICAMP. Especialista em Desenvolvimento Local e Competitividade Territorial pela CEPAL/ILPES e AECID. Foi consultor do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) de 2000 a 2002.

A parceria PAB e Sebrae

Fábio Silva iniciou a sua participação no quadro de entrevistas com o destaque das razões para o estabelecimento da parceria entre o Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e a relevância dessa relação na trajetória do artesanato nacional. Segundo o gestor do PAB, a colaboração despontou da necessidade de incrementar o conhecimento dos artesãos na gestão de seus negócios de modo a impulsionar o setor e, considerando a reconhecida atuação do SEBRAE neste segamento, almejou-se o acordo para promover o desenvolvimento de tais competências por parte dos atores envolvidos na atividade artesanal.

Em adição, César Rissete reconheceu a importância do projeto e da colaboração de diversos órgãos, como a UFMG, o PAB e o Sebrae, na elaboração de soluções que visam aprimorar de modo global o trabalho de todos os envolvidos com o artesanato no país. O Gerente de Competitividade do Sebrae enfatizou que, em função da presença do PAB em todas as Unidades da Federação e do significativo poder de mobilização da entidade, fez-se fundamental o Sebrae acompanhar essa distribuição espacial para compreender as necessidades dos artesãos brasileiros e alcançá-los a partir da cooperação institucional. 

Capacitações para os artesãos

Entre as atividades desenvolvidas pela parceria PAB/Sebrae, está a realização de seminários e de capacitações voltadas ao gerenciamento de negócios, desde a organização financeira ao relacionamento com os clientes, em especial, para atenuar os impactos causados pela pandemia da Covid-19. Nesse sentido, Rissete apresentou uma iniciativa promovida pelas duas instituições, denominada Trilha Artesão Empreendedor, cujo intuito é fomentar o progresso do artesanato brasileiro. Estruturada em dois níveis, a trilha é totalmente gratuita e está disponível no formato on-line; além disso, dispõe de uma curadoria dos serviços ofertados pelo Sebrae que melhor se conectam à realidade da atividade artesanal. 

O primeiro nível da formação possui carga horária de 30 horas e compreende os tópicos:  aprender a empreender, acesso ao microcrédito, marketing digital e atendimento ao cliente. Por sua vez, o segundo nível compreende 23 horas para a aquisição de conhecimentos sobre planejamento estratégico, lojas virtuais em marketplaces, divulgação em redes sociais, definição do preço de venda, controle do fluxo de caixa, gestão financeira e design no empreendimento. A partir de 75% de presença em cada curso, será concedido um certificado de participação.

Pandemia da Covid-19

Conforme Fábio Silva, com o advento da crise sanitária motivada pelo coronavírus, houve intensas alterações nas relações de trabalho e comercialização do artesanato nacional. Para amenizar os intensos efeitos negativos sobre o setor e providenciar alternativas de consumo, o PAB organizou parcerias com o Mercado Livre, onde os artesãos cadastrados no Sistema de Informação do Artesanato Brasileiro (SICAB) dispõem de um espaço exclusivo para as vendas, e a Amazon, cujo acordo prevê a criação de uma loja para o artesanato, que estará em funcionamento em breve. 

Além disso, com foco no mercado externo, o PAB e Universidade Federal da Paraíba (UFPB) lançaram a ferramenta Aprendendo a Exportar Artesanato, na qual o artesão pode conhecer os procedimentos essenciais para posicionar internacionalmente seu trabalho. O guia informa as adequações dos produtos, os locais de apoio para as operações, bem como as principais etapas da exportação. Fábio ressaltou, ainda, uma parceria com a Embratur que viabilizará a exposição de peças artesanais nacionais em feiras de turismo no exterior.

Da perspectiva do Sebrae, César Rissete destacou que, desde o início da pandemia, a instituição realiza pesquisas para monitorar o impacto do contexto sanitário em diversos setores da economia, incluindo o artesanato, através de entrevistas mensais com os empreendedores para capturar um panorama realista. Segundo Rissete, os dados apresentaram um cenário desanimador: o setor artesanal chegou a registrar uma queda de 91% no faturamento, sobretudo, devido à inviabilidade das feiras presenciais. 

O Gestor de Competitividade reiterou o acentuado efeito da atuação junto aos ministérios e entidades de apoio para a implantação de medidas provisórias, tais como auxílios emergenciais e disponibilização de crédito, para que a situação dos artesãos não atingisse um patamar mais nocivo. Por outro lado, um aspecto positivo verificado foi a inserção acentuada dos empreendedores do artesanato no meio digital, tanto nas redes sociais para a exposição e comercialização de suas criações quanto no Pix, sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central.

Microcrédito para o artesanato

O Sebrae define microcrédito como “a concessão de empréstimos de pequeno valor a microempreendedores formais e informais, normalmente sem acesso ao sistema financeiro tradicional”, ou seja, trata-se de um apoio importante para muitos empreendedores aprimorarem suas atividades produtivas e até mesmo preservarem as estruturas dos negócios em momentos de crise. Sob esta perspectiva, Fábio Silva afirmou que o PAB e o Sebrae auxiliam o artesão no gerenciamento do negócio e na obtenção de crédito, porém, ele é responsável por escolher a modalidade que atuará, seja Pessoa Física (PF), Microempreendedor Individual (MEI) ou Microempresa (ME). 

Ademais, o Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Artesanato no Ministério da Economia declarou que, com as capacitações proporcionadas pelo Sebrae, o artesão conquistará uma gestão melhor de seu empreendimento e, por consequência, a aquisição de crédito nas instituições financeiras será facilitada, pois, ao solicitar crédito para aquisição de matéria-prima ou de máquinas e instrumentos, o artesão assegurará a capacidade de pagamento e as condições de recebimento dos recursos. 

Em seguida, Fábio orientou que, após a disponibilização do recurso, é imprescindível que o dinheiro seja empregado de modo adequado para suprir as demandas apontadas durante a solicitação e seja bem administrado a fim de aumentar o faturamento e quitar o crédito com a instituição financeira. O gestor ratificou que o Programa do Artesanato Brasileiro está trabalhando na criação de instrumentos que proporcionarão a garantia solicitada no pedido de microcrédito para que todo o processo seja facilitado. O plano de ação foi motivado por análises da disponibilização de capital que evidenciaram uma tendência de retração do crédito alinhada à incerteza do faturamento dos artesãos como obstáculos para o acesso ao crédito. 

No portal do PAB, há uma página destinada ao CREDArtesanato, um canal que possibilita o encaminhamento de um produto ou serviço para os mais de 107 bancos credenciados. A vantagem do serviço está no fato da solicitação ser acompanhada do cadastro da base da Receita Federal e do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB), facilitando os trâmites.

Complementarmente, César Rissete frisou a importância do preparo dos artesãos para lidar com o crédito cedido. Segundo ele, a organização nasce antes da solicitação do recurso: é fundamental o entendimento da real necessidade do valor pleiteado, atentar-se à documentação — nesse aspecto, o Sebrae analisa a aplicação junto ao empreendedor para propor alguma alteração estrutural que leve à redução do montante ou realocação do propósito inicial. Desse modo, tanto o PAB quanto o Sebrae auxiliam no direcionamento da melhor decisão a ser tomada pelo artesão, de modo que ele seja autônomo em sua decisão. Confirmado o crédito, o Sebrae acompanha a aplicação do recurso e as condições de pagamento, atuando, inclusive, em uma possível renegociação.

Prorrogação do projeto

Boas notícias para o setor artesanal brasileiro! O projeto continuará em 2022. A confirmação veio através de Fábio Silva, que anunciou a efetivação de um novo aporte de recursos para a UFMG dar continuidade ao programa. Segundo ele, na nova etapa, estão previstas outras entregas para os artesãos: além do diagnóstico do artesanato, aperfeiçoamento da base conceitual (Portaria nº 1.007/2018) e uma proposta de alteração da lei nº 13.180/2015, haverá um estudo para a criação de um selo do artesanato brasileiro e será realizada uma premiação nacional para reconhecer e valorizar instituições, entidades e atores envolvidos na atividade.

Confira a entrevista na íntegra:

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